*Ronaldo Lessa
Lendo um texto acerca
da atividade esportiva, de autoria da doutora Flávia Fernandes, com mestrado em
Psicologia pela Universidade de Londres, resolvi destacar este seu pensamento:
“O esporte é importante para a saúde e para o bem-estar do ser humano. Para a
criança, pode ser um fator fundamental de desenvolvimento”. Logo em seguida,
sou estimulado a revisitar um passado recente, vivenciado há quase uma década,
quando as agências vinculadas às Nações Unidas elaboraram relatório oficial,
intitulado “Esporte para o desenvolvimento e a paz”.
O trabalho objetivou traçar diretrizes com vista às metas evolutivas
para o milênio. Lá no segmento introdutivo do documento, uma afirmação
inquestionável, que vai ao encontro das reflexões emanadas pela doutora Flávia
e por organismos de categoria internacional: “O esporte é fundamental para o
desenvolvimento de uma criança. Ensina valores, tais como a cooperação e o
respeito. Traz melhorias para a saúde e reduz a probabilidade de doenças”.
O documento vai além, ao associar aspectos atinentes à economia das
nações: “É uma força econômica significativa que gera emprego e que contribui
para o desenvolvimento local. Além disso, reúne indivíduos e comunidades,
servindo de ponte entre as diferenças culturais e étnicas”.
Mais adiante, o
relatório das Nações Unidas põe o dedo na ferida e critica aqueles que não
elegem a atividade esportiva como algo prioritário na gestão pública: “Ao mesmo
tempo em que o esporte e a brincadeira são repetidamente reconhecidos como um
direito humano, nem sempre são considerados como uma prioridade e já foram até
mesmo chamados de ‘direitos esquecidos’. O esporte é considerado um sub-produto
do desenvolvimento, não um motor”.
Se os governantes
refletissem sobre a profundidade desse documento, talvez a disseminação da
atividade esportiva, em outra dimensão, já tivesse produzido frutos mais substanciais,
na perspectiva da consolidação de uma cultura de paz entre os seres humanos.
Diante de tais argumentações,
lamentavelmente, não é nada edificante o exemplo ofertado pelo governador de
Alagoas em termos de política de esporte para o nosso Estado. Primeiro, ele
acabou com a Secretaria de Esportes, quando o País já possuía um Ministério
voltado para esse segmento. Depois, escanteou ainda mais essa política, ao
marginalizar, no âmbito da Secretaria de Educação, a disseminação de ações em
caráter estadual.
Enquanto outros Estados
dão goleada, ao investir no esporte como instrumento de inserção social e de
geração de oportunidades, revelando jovens e interferindo positivamente em sua
formação, num contexto de combate à violência e de construção da paz, o governo
do Estado faz a política da bola murcha.
Recentemente, o
governador esteve em audiência com o ministro dos Esportes, o alagoano Aldo
Rebelo. A cena foi até politicamente constrangedora, pois o Aldo, como filho
desta terra, sabe do descaso do governo tucano e de sua desconexão com os
avanços obtidos pelo governo federal. É o inverso do clima vivido por um País
que se prepara para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas.
Este ano, os esportes
entrarão naturalmente na pauta de debate da sucessão municipal, com as diversas
esferas de poder sendo alvo de observações advindas da sociedade, na
perspectiva da formulação de políticas que favoreçam nossa juventude,
especialmente aquelas que vivem sem esperança na periferia das cidades.
*É ex-governador do
Estado de Alagoas.